[editar] Fontes de informação
A principal fonte para informações históricas sobre a vida de Paulo são as pistas encontradas em suas epístolas e nos Atos dos Apóstolos. Os Atos recontam a carreira de Paulo, mas deixam de fora diversas partes de sua vida, como a sua alegada execução em Roma[4].Estudiosos como Hans Conzelmann e o teólogo John Knox (não deve ser confundido com John Knox do século XVI), disputam a confiabilidade histórica dos Atos dos Apóstolos[7][8]. O relato do próprio Paulo sobre seu passado está principalmente na Epístola aos Gálatas. De acordo com alguns acadêmicos, o relato dos "Atos" sobre a visita de Paulo a Jerusalém, em Atos 11:27-30, contradiz o relato nas epístolas paulinas[4]. Outros consideram o relato de Paulo nas epístolas como sendo mais confiável do que os encontrados nos "Atos"[2]:p. 316-320.
[editar] Nomes
O nome original de Paulo era "Saulo" (em hebraico: שָׁאוּל- Sha'ul; tiberiano: Šāʼûl - "o que se pediu, o que se orou por" e traduzido em grego antigo Σαούλ - Saul - ou Σαῦλος - Saulos)[9][10], nome que divide com o bíblico Rei Saul, um outro benjaminita e primeiro rei de Israel, que foi sucedido pelo Rei Davi, da tribo de Judá[6][11]. Segundo suas próprias palavras, era um fariseu[nota e].O uso de "Paulo" (em grego: Παῦλος - Paulos; em latim: Paulus ou Paullus - "baixo"; "curto"[12]) aparece nos "Atos" pela primeira vez quando ele começou sua primeira jornada missionária em território desconhecido. Em Atos 13:6-13, Paulo aparece, juntamente com Barnabé e João Marcos, conversando com Sérgio Paulo, um oficial romano em Chipre que será convertido por ele. Paulus era um sobrenome romano e alguns argumentam que Paulo o adotou como seu primeiro nome[13]. Outra teoria, apontada pelo Vaticano, afirma que era costume para os judeus romanizados da época adotarem um nome romano e o pai de Paulo provavelmente quis agradar a família dos Pauli[14]. Por fim, há ainda os que consideram possível a homenagem a Sérgio Paulo e mais provável que a mudança esteja mais relacionada a um desejo do apóstolo em se distanciar da história do Rei Saul, que perseguiu Davi[15].
[editar] Antes da conversão
Em "Atos dos Apóstolos", Paulo afirma ter nascido em Tarso (na província de Mersin, na parte meridional da Turquia central) e faz breves menções à sua família. Um sobrinho é mencionado em Atos 23:16 e sua mãe é citada entre os que moram em Roma em Romanos 16:13. É ali também que o apóstolo confessa que «Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.» (Atos 8:3)[16] [nota f].Mesmo tendo nascido em Tarso, foi criado em Jerusalém, "aos pés de Gamaliel"[nota r], que é considerado um dos maiores professores nos anais do Judaísmo" e cujo equilibrado conselho em Atos 5:34-39, para que os judeus se contivessem na fúria contra os discípulos, contrasta com a temeridade de seu estudante que, após a morte de Estevão, saiu num rompante perseguindo os "santos" [nota g].
[editar] Conversão e a sua missão
[editar] Testemunho pós-conversão
Nos versículos iniciais da Epístola aos Romanos, Paulo nos dá uma litania de sua própria alegação apostólica e de suas convicções pós-conversão sobre a ressurreição de Cristo.Os seus próprios textos nos dão alguma ideia sobre o que ele pensava de sua relação com o Judaísmo. Se por um lado se mostrava crítico, tanto teologicamente quanto empiricamente, das alegações de superioridade moral ou de linhagem dos judeus[nota s], por outro defendia fortemente a noção de um lugar especial reservado aos filhos de Israel[nota t].
Ele ainda afirmou que recebeu as "boas novas" não de qualquer um, mas através de uma revelação pessoal de Jesus Cristo[nota i]. Por isso, ele se entendia independente da comunidade de Jerusalém[2]:p. 316 - 320 (possivelmente no Cenáculo), embora alegasse sua concordância com ela no que tangia ao conteúdo do Evangelho [nota j]. O que é mais impressionante nesta conversão é a mudança na forma de pensar que ocorreu. Ele teve que mudar seu conceito sobre quem o Messias era e, particularmente, aceitar a ideia então absurda de um Messias crucificado. Ou talvez o mais difícil tenha sido a mudança de seus conceitos sobre a superioridade dos judeus. Ainda há debates sobre se Paulo já se considerou como o veículo de evangelização dos gentios no momento de sua conversão ou se isto se deu mais tarde[20].
[editar] Primeiros anos de ministério
Após a sua conversão, Paulo foi para Damasco, onde os "Atos" afirmam que foi curado de sua cegueira e batizado por Ananias de Damasco[21]. Paulo afirma em 2 Coríntios 11:32 que foi em Damasco que ele escapou por pouco da morte, indo em seguida primeiro para a Arábia e depois de volta para Damasco[nota u]. Esta viagem de Paulo para a Arábia não é mencionada em nenhum outro lugar no Novo Testamento e alguns autores acreditam que ele tenha na realidade viajado até o Monte Sinai para meditar no deserto[22][23]. Ele descreve em Gálatas como, três anos após a sua conversão, ele viajou para Jerusalém, onde se encontrou com Tiago, o Justo, e ficou com Simão Pedro por 15 dias[nota v].A narrativa em Gálatas continua afirmando que, quatorze anos após a sua conversão, ele foi de novo a Jerusalém[nota w]. Não se sabe exatamente o que aconteceu neste período, conhecido como "anos desconhecidos", mas tanto os Atos quanto os Gálatas nos dão algumas pistas[24]. Ao final deste período, Barnabé foi ao encontro de Paulo e o trouxe de volta para Antioquia[nota x]. O autor F. F. Bruce sugeriu que os quatorze anos podem ser contados a partir da conversão de Paulo ao invés de sua primeira visita a Jerusalém[25].
Quando uma grande fome ocorreu na Judeia[26], Paulo e Barnabé viajaram para Jerusalém para entregar a ajuda financeira da igreja de Antioquia[27]. De acordo com os Atos, Antioquia já tinha se tornado um centro importante para os fiéis após a dispersão dos crentes que se seguiu ao martírio de Estêvão[2] e foi lá que os seguidores de Jesus foram, pela primeira vez, chamados de cristãos[nota k].
[editar] Primeira viagem missionária
Nos Atos, relatam-se três viagens de Paulo: a primeira, liderada primeiro por Barnabé, levou Paulo de Antioquia até Chipre, passando depois pela Ásia Menor (Anatólia) e de volta a Antioquia. Em Chipre, Paulo refuta e cega Elimas, o mago, que estava criticando seus ensinamentos. Deste ponto em diante, Paulo é descrito como sendo o líder do grupo[28].[editar] Segunda viagem missionária
[editar] Concílio de Jerusalém
Com o objetivo de levar a Antioquia o resultado do concílio, os fiéis realizaram uma eleição para escolher dois mensageiros que acompanhariam Paulo e Barnabé nessa missão. Os eleitos então foram Silas e Judas, "chamado Barsabá"[nota y].
Paulo, Barnabé, Judas e Silas partiram então de Jerusalém levando os decretos dos apóstolos aos fiéis em Antioquia e nas províncias romanas da Síria e Cilícia. Chegando a Antioquia, eles cumprem a missão que lhes foi dada, sendo que Judas retorna para Jerusalém e desaparece da história, enquanto Silas permanece na cidade[nota z].
[editar] Paulo e Silas
Em Antioquia, Paulo e Barnabé tiveram uma dura discussão sobre se deveriam levar João Marcos com eles. Nos Atos, é mencionado que o menino já os tinha deixado em uma viagem anterior para retornar para casa. Paulo acreditava que ele ainda não estava pronto para este tipo de evangelização e, por isso, ele e Barnabé decidiram se separar. Barnabé acabou levando João Marcos consigo e Silas se juntou a Paulo[30].Paulo e Silas viajaram para diversas cidades diferentes, como Tarso, Derbe e Listra (todas na Ásia Menor). Nesta última, eles encontraram Timóteo, um discípulo que tinha uma boa reputação, e decidiram levá-lo com eles. Em Filipos (na Grécia), uma multidão incitada por homens insatisfeitos com a conversão de uma escrava que dava muitos lucros aos seus patrões com suas adivinhações se insurgiu contra os missionários, açoitando e prendendo Paulo e Silas. Após um milagroso terremoto, os portões da prisão se abriram e os dois puderam escapar, o que levou por sua vez à conversão do carcereiro[nota a1]. Eles seguem então para Bereia, de onde Paulo segue para Atenas, deixando ali Silas e Timóteo[nota b1]. Na capital grega, Paulo prega no areópago contra os muitos ídolos que encontra, converte Dionísio, o Areopagita e parte [nota c1].
Por volta de 50 a 52, Paulo passou 18 meses em Corinto[4], onde reencontrou Timóteo e Silas. A referência nos Atos ao procônsul Gálio permite inferir a data (vide Inscrição de Gálio[4]). Lá ele trabalhou com Silas e Timóteo[4] e Paulo conheceu Priscila e Áquila, que se tornaram fiéis crentes e ajudaram Paulo em suas viagens missionárias. A dupla seguiu Paulo e seus companheiros até Éfeso e o grupo permaneceu ali para iniciar aquela que seria a mais forte e fiel igreja cristã daquele tempo. A cidade foi um importante centro da cristandade a partir do ano 50. Em 52, os missionários viajaram para Cesareia Mazaca para cumprimentar a igreja que se formara ali, viajando em seguida para o sul até Antioquia, descansando ali por um ano antes de iniciarem uma terceira viagem missionária[30].
[editar] Terceira viagem missionária
Paulo iniciou sua terceira viagem missionária passando por toda a região da Galácia e da Frígia para reforçar a fé e ensinar para os fiéis, além de repreender os que estavam em erro. Quando ele chegou em Éfeso, ficou ali por pouco menos de três anos e realizou uma série de milagres, como curas e exorcismos. O apóstolo seguiu então para a Macedônia[31], passando novamente por Corinto, onde permaneceu por três meses. Quando ele estava pronto para retornar para a Síria, mudou de ideia por conta de um plano que os judeus tinham feito contra sua vida, voltando então para a Macedônia e terminando sua viagem em Cesareia[32].Embora Paulo tenha escrito sobre uma visita que fez a Illyricum, ele estava se referindo ao que hoje chamamos de Illyria Graeca[33], parte da província romana da Macedônia, onde hoje está atualmente a Albânia[34].
[editar] Viagem a Roma
Paulo e seus companheiros seguiram então para Roma, naquela que foi provavelmente a última das viagens missionárias, em 60. A viagem começou em Jerusalém, onde os irmãos foram recebidos em festa. Lá, Paulo foi espancado e quase morto, preso e enviado para Cesareia Marítima, onde esteve detido durante aproximadamente um ano e meio. Foi transferido depois para Roma, a seu pedido, e solto após o comandante saber que ele era um cidadão romano. Paulo passou então a pregar na capital imperial[35].[editar] O Incidente em Antioquia
Escrevendo depois sobre o incidente, relata ter dito a Pedro e os demais presentes «Se tu, sendo judeu, vives como gentio, e não como judeu, como obrigas os gentios a viver como os judeus?» (Gálatas 2:11-14)[16]. Paulo também menciona que até mesmo Barnabé, seu companheiro de viagem até aquele momento, ficou do lado de Pedro[36][nota l].
O resultado final do incidente permanece incerto. A Enciclopédia Católica afirma que "o relato de Paulo sobre o incidente não deixa dúvidas de que Pedro viu justiça na reprimenda". Em contraste, a obra "From Jesus to Christianity", de L. Michael White, alega que "o confronto com Pedro foi um falha completa, uma bravata política, e Paulo logo deixou Antioquia como persona non grata para nunca mais voltar"[37].
[editar] Visitas a Jerusalém nos Atos e nas Epístolas
Esta tabela foi adaptada da obra de White, From Jesus to Christianity[29]. Este pareamento entre as viagens de Paulo como narradas nos Atos e nas Epístolas não são consenso entre os acadêmicos.Atos dos Apóstolos | Epístolas |
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[editar] Prisão e morte
Paulo chegou em Jerusalém em 57 com uma coleta de dinheiro que tinha feito para a comunidade local[4] e, segundo Atos, ele foi recebido calorosamente. Porém, o relato continua afirmando que ele foi interrogado por Tiago por ensinar a «...todos os judeus que estão entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem andem segundo os nossos ritos» (Atos 21:22)[16]. Paulo então realizou um ritual de purificação para não dar aos judeus nenhum motivo para acusá-lo por não seguir os mandamentos da Lei[4].Paulo porém continuava a pregar contra a circuncisão, contra as restrições alimentares e contra os requerimentos da Torá e isto provocou o rompimento final com os judeus[4]. Paulo causou um alvoroço ao aparecer no Templo e somente escapou da morte por ter sido preso[4]. Ele foi então mantido prisioneiro por dois anos em Cesareia até que um novo governador reabrisse seu caso em 59[4]. Quando Paulo foi acusado de traição apelou ao César, alegando seu direito, como cidadão romano, de ser levado a um tribunal apropriado e de se defender das acusações[4].
Atos 28:1 relata que no caminho para Roma, Paulo sofreu um naufrágio em "Melite" (Malta)[4], onde ele se encontrou com Públio[nota o1] e foi recebido pelos habitantes da ilha com "muita humanidade"[nota p1]. Ele chegou a Roma por volta do ano 60 e passou mais dois anos em prisão domiciliar[nota q1]. Contando esta vez, Paulo passou entre cinco e seis anos preso em celas ou prisioneiro em casa.
Ireneu de Lyon acreditava que Pedro e Paulo tinham sido os fundadores da Igreja de Roma, sendo eles a nominarem São Lino como bispo e sucessor:
“ | ...Igreja fundada e organizada em Roma pelos dois mais gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo; também [ensinando] a fé pregada aos homens, que chegou aos nossos dias através da sucessão dos bispos....Os abençoados apóstolos, então, tendo fundado e abençoado a Igreja, entregaram nas mãos de Lino o episcopado. | ” |
[editar] Tradição sobre a morte de Paulo
Vários autores cristãos da Antiguidade já propuseram mais detalhes sobre a morte de Paulo. I Clemente, uma carta escrita pelo bispo de Roma, Clemente, por volta do ano 90 d.C. relata o seguinte sobre Paulo[41]:
“ | "Por causa de inveja e brigas, Paulo, pelo exemplo, mostrou a recompensa da resistência paciente. Após ele ter sido preso por sete vezes, ter sido exilado, apedrejado e ter pregado no ocidente e no oriente, ele recebeu o reconhecimento que era o prêmio da sua fé, tendo ensinado a retidão para o mundo inteiro e tendo chegado aos confins do ocidente. E quando ele já tinha dado seu testemunho perante os governantes, partiu deste mundo e foi para um lugar sagrado, tendo encontrado um notável padrão de resistência paciente. | ” |
— I Clemente, Clemente de Roma |
Eusébio de Cesareia, que escreveu no século IV d.C., afirma que Paulo foi decapitado durante o reino do imperador romano Nero[43]. Este evento tem sido datado ou no ano de 64 d.C., quando Roma foi devastada por um incêndio, ou alguns anos depois, em 67 d.C. A festa de São Pedro e São Paulo, da Igreja Católica, é comemorada em 29 de junho, o que pode refletir uma data tradicional para o seu martírio. Outras fontes também apontaram uma tradição de que Pedro e Paulo teriam morrido no mesmo dia (e, possivelmente, no mesmo ano)[44].
O apócrifo Atos de Pedro sugere que Paulo sobreviveu a Roma e viajou para o oeste, para a Hispânia[45]. Alguns mantém o ponto de vista que ele poderia ter visitado a Grécia e a Ásia Menor após a sua viagem à Hispânia e que ele pode ter sido finalmente preso em Troas e enviado a Roma para ser executado[46](veja-se a discussão acima sobre as epístolas a Timóteo).
[editar] Túmulo e relíquias
A tradição cristã mantém que Paulo foi enterrado com São Pedro ad Catacumbas na Via Ápia e lá permaneceu até seu corpo ser levado para a Basílica de São Paulo Extra-Muros, em Roma. O venerável Beda, em sua Historia ecclesiastica gentis Anglorum, escreveu que o Papa Vitaliano, em 665, deu algumas relíquias de Paulo (incluindo a cruz feita com as correntes que o prenderam) ao rei Oswiu da Nortúmbria, no norte da Inglaterra[47].Ainda segundo a tradição, o túmulo de Paulo estaria localizado na Basílica de São Paulo Extra-Muros, em Roma[48]. Escavações foram realizadas conforme o relato feito em um comunicado da Agência Católica Internacional de Imprensa (APIC - Agence de Presse Internationale Catholique), de 17 de fevereiro de 2005[49]:
“ | Um sarcófago que pode conter as relíquias do apóstolo Paulo foi identificado na Basílica de São Paulo Extra-Muros, de acordo com Giorgio Filippi, chefe do departamento epigráfico do Museu do Vaticano. Sob o altar elevado, está uma laje de mármore do século IV, que sempre esteve visível, contém uma inscrição PAULO APOSTOLO MART (Paulo Apóstolo Mártir). A placa tem três furos e provavelmente está relacionada com o culto funerário de São Paulo. De acordo com Giorgio Filippi, esses buracos foram usados para a "criação de relíquias" por meio de simples contato com o túmulo do apóstolo. Ao longo da Via Ostiense, um santuário foi erguido sobre o túmulo do apóstolo Paulo ainda no século I d.C. Como já fizera com São Pedro, o imperador romano Constantino, o Grande, começou, no início do século IV, a construir uma basílica para abrigar o túmulo. Então, em 386, meio século após a do imperador e por conta do afluxo de peregrinos, uma basílica ainda maior foi construída por ordem dos imperadores Valentiniano II, Teodósio I e Arcádio. | ” |
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